“Mais (Um) Nada” marca a estreia de Jacyntho Brandão na poesia

O tradutor e professor fala de perdas, vazios e  ausências em um mundo desmedido, com leveza e humor sutil

Após lecionar línguas, publicar livros sobre literatura e traduzir poesia grega e do francês medieval, o professor, tradutor e escritor Jacyntho Brandão não resistiu e resolveu “dar murro em ponta de faca”, esta prática recorrente dos poetas. Ele lança agora seu primeiro livro de lavra poética autoral. “Mais (Um) Nada” traz 32 poemas, em que se dedica ao exercício de formas variadas – algumas fixas e outras, livres.

O ato da tradução poética requer, além da fidelidade ao sentido original, certa obediência à métrica e à sonoridade dos versos, e isto acabou estimulando a sua curiosidade. Entre sonetos e versos brancos, o autor constrói seu diálogo com o lirismo, sublinhando faltas, vazios, ausências.

No livro, escrito ao longo de 2019, um humor fino atravessa suas indagações. Traços dessa característica drummondiana e ‘bandeiriana’ passeiam aqui e ali – não por acaso, Carlos e Manuel são dois de seus poetas prediletos.

O exercício do labor poético requer disciplina e dedicação, características de um homem de letras, dedicado aos livros, aos estudos, pesquisas, traduções. Por isso, ele avisa no poema que abre o livro, que seu caminho é o da transpiração: “Sempre pensei poesia/ Mas nunca versos escrevi/ Aquilo da coisa fria/ Que baixa, noite do dia/ Este dia eu já perdi”.  A estrutura cabralina também se faz presente, no lirismo que transita pelo rigor formal. João Cabral, por sinal, primo de Bandeira. Nada é por acaso?

Entre poemas autobiográficos e o exercício da dedicação às formas a leitura flui, como aliás deve ser nos bons livros. Sua poesia é quase uma prosa esquematizada em versos. Entre ‘escrever atrasado’, como disse no poema de abertura, e se antecipar aos fatos (“O mundo que antes era terminou”, escreveu ele em 2019), Jacintho Brandão usa a medida das formas para falar deste mundo desmedido, como escreveu Ana Martins Marques, na orelha do livro. 

O exercício de perder e ganhar, tão inerente à vida, ganha aqui uma leveza, um humor sutil, como na leitura de uma crônica, quando, ao final, não evitamos um sorriso de satisfação.

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