Quantos entendimentos cabem no coração de uma rosa, no estranho coração de um ipê amarelo. Quantos discernimentos alucinam os olhos de uma gaivota? Pois o poeta Luiz Edmundo Alves não responde a nenhuma destas perguntas. E isso é ótimo. É dele o belíssimo Álbum de percepções. O poeta nasceu em Vitória da Conquista, na Bahia e atualmente vive em uma fazenda em Almenara. Já publicou seis livros de poesia, dentre eles Sopro; Na contra luz e Fotogramas de agosto. Produziu e dirigiu a premiada série de videopoemas Lampejos, fundou e editou o site de literatura Tanto e em 2009 publicou Uvas verdes – poesia, paixão, memória, com ensaios, críticas literárias e narrativas autobiográficas.
Pois bem. “Álbuns de percepções é uma reunião de poemas, fotos e desenhos, registros de minhas andanças e, igualmente, de percepções diversas. Uma experiência estética”, explica o poeta. O que dizer diante das imagens que não cessam? A cada segundo um relâmpago, a cada instante o novo, e novamente o novo novamente novo. Dentro do agora mora inexoravelmente uma primeira vez, um nascimento, um turbilhão de signos sobre e sob signos. Captar esses relâmpagos não é tarefa das mais fáceis. É tarefa para pintores, mais ainda, é tarefa para os poetas. Não é simples. E tudo é espantosamente simples. “Não sei o que diz a felicidade, se dura mais do que uma dança”, o poeta questiona, já – não – sabendo a resposta.
Para tanto, é preciso ser samurai e bailarino, para conceber o inusitado, a existência vestida de poesia. O lirismo da poesia de Luiz Edmundo Alvez é direto, eficaz como o golpe de uma katana: “aproxime-se, venha comigo à/janela, preciso de suas mãos para/limpar a areia dos meus olhos”. O poeta nos faz duvidar da suposta ingenuidade dos pássaros. Não, não pode ser frágil o que aprendeu a voar.
Nada foge do olhar poético de Luiz Edmundo, de Lu(i)z Ed(mundo). Nuvens, objetos, vitrais, um homem carregando uma simples (?) enxada, o fiar e a teia de uma aranha cinza, uma flor azul que observa o rio indo. O poeta nos faz enxergar que o amarelo de uma outra flor fica melhor quando vestido de orvalho. Viajar serve para conhecermos o mundo. Que o diga Luis Edmundo, que trouxe, que captou a aura de Londres, Paris, Barcelona, Veneza, Santiago, de Belo Horizonte a Almenara.
Após percorrer um livro tão bonito, só citando (recitando) Leminski: “Parizo, novayorquizo, moscoviteio, sem sair do lugar”. Mais do que de percepções, os corações também sabem da beleza e da força das imagens e da poesia. Tudo junto, e misturado.
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André di Bernardi é jornalista e poeta. Publicou A hora extrema; água cor; longes pertos e algumas árvores; É quase noite no coração daquelas águas (editora Confraria do Vento); O ar necessário (Editora Jaguatirica) e o infantojuvenil, Esse bicho sou eu (editora Jaguatirica).