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Ana Cecilia Carvalho 5

“O foco das coisas & outras histórias”

por Luis Giffoni, escritor

Foco, ponto de convergência. Por outro lado, foco, focus, fogo. “O foco das coisas & outras histórias” é uma dessas criações que custam para ficar prontas (no papel e no efeito que provocam), cuja digestão é prazerosa à medida que nos lembramos de seus personagens e enredos. O mistério das tramas sobrenada, o incomodo da lateralidade no tempo e no espaço assoma, a imaginação se funde com a realidade. Pergunte a Bia ou Benjamin em “Enquanto isso não se revela” – ou a Pedro, em “O passado”, quando acelera rumo ao futuro. Ou a Mirna, em  “A festa dos sonhos”. Inquira a brancura de “Segunda charada: o motivo”. Se não conseguir resposta, socorra-se em “Pós-escrito”. Pois é. Talvez a dúvida resista. Ficção é isso. Um espelho quebrado onde nos dividimos em múltiplas faces, experimentamos diversos cozimentos, mergulhamos em mil e uma noites de invenções. Qual o sultão enredado por uma trama inexistente, somos aprisionados pelo texto fascinante de Ana Cecilia Carvalho. Ela acende o fogo das coisas.

“O foco das coisas & outras histórias” não é um livro de transparências, mas de nuances e de sombras. Imagens de confinamento traduzem, com inteligência e bom humor, a vida, mesmo quando se está diante de um tratado poético sobre a desesperança. Equilibrar-se no fio estreito das certezas é condição para se aproximar desses textos estranhamente belos e inquietantes. O leitor perceberá que, como na célebre lição de Graciliano Ramos, “liberdade completa ninguém desfruta: começamos oprimidos pela sintaxe e acabamos às voltas com a delegacia de ordem política e social, mas, nos estreitos limites a que nos coagem a gramática e a lei, ainda nos podemos mexer”. Nos lugares inóspitos de cada história de “O foco das coisas & outras histórias” uma fresta de ar nos ajuda a respirar.

 

 

Ana Cecília Carvalho na Editora Quixote-Do:

1 comentário em ““O foco das coisas & outras histórias””

  1. Giovana Helena de Monteiro

    Trilogia imperdível, e o pos-escrito fica conosco ganhando novos sentidos com o passar do tempo, do foco, das coisas… É muito único, especial!

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