“Réstia de Alho” é o décimo livro do jornalista e escritor Maurício Lara. Responsável por assinar a orelha da publicação, Carlos Herculano Lopes, escritor e também jornalista, destaca a fina sensibilidade de ficcionista e repórter experimentado de Lara para compor este romance. O próprio autor explica: “Talvez possa ser dito que valho-me da experiência de repórter e das vivências para criar as histórias do romance”.
Em “Réstia de Alho”, um pequeno fazendeiro, Joca Ferrão, homem rude, tem dois postos de observação em sua vida. Na janela da sala da casa simples, de onde ele vê o curral, o pasto, vacas. Lá, ele vê seu mundo externo. Dentro da casa, o que restou da família, depois que a maioria dos filhos foi viver a própria vida: a mulher, uma filha solteira com um filho aleijado, cujo pai ninguém conhece, e que trota de quatro pela casa e pela fazenda. No porão, com cheiro do alho que ele colhe e armazena no paiol, tem um saxofone, comprado clandestinamente de um caixeiro-viajante, que Joca Ferrão sopra sem conseguir tirar nenhum acorde. O porão é seu mundo interno, ou subterrâneo, onde estão suas dívidas, desejos, fantasias, dores e perguntas. “É fascinante para o autor esse mergulho no porão de um personagem rude, que tenta entender sua vida pelos poros, muito mais do que pela reflexão”, diz Lara.
Trata-se de um romance que descreve com leveza a vida na superfície singela de um Brasil profundo, enfiado no século XX, enquanto mergulha nas profundezas de almas aparentemente rasas, mas complexas e indecifráveis. Na casa, no porão, no bananal, no tanque, na janela, na escada, no curral, na roça de arroz e alho a vida transcorre com mais perguntas do que respostas. “E gosto quando o livro tem um final forte. E Réstia de Alho tem. Eu considero meu romance O Porco um livro com uma história forte. Réstia de Alho também é assim. Só o leitor poderá dizer qual é mais forte, mais surpreendente”, diz Lara.
O autor e a literatura
O jornalista conta que a literatura sempre o “perseguiu”. Mas ela entrou pra valer na minha vida já depois dos 50 anos, quando eu me encorajei a colocar para fora o que sentia e pensava”, diz. Antes disso, Maurício já tinha publicado quatro livros, sendo um deles, um romance. “Mas deslanchei mesmo mais tarde. De lá para cá, a produção foi aumentando”, conta. A partir de 2015, lançou seis romances, incluindo o próprio “Réstia de Alho”.
Maurício Lara diz que seu processo de criação é quase anárquico. “Costumam me perguntar quanto tempo eu gastei para escrever um livro. Posso dar a resposta em dias, em meses ou em anos. Mas prefiro dizer que demorei 66 anos, que é minha idade atual”, diz. “Ou seja, cada livro é resultado de minhas vivências, ainda que ele seja escrito rapidamente”, afirma o autor, que revela influências diversas. De Jack London a João Guimarães Rosa – especificamente o “Grande Sertão:Veredas” – passando por Érico Veríssimo, Fernando Sabino, José Saramago, Kafka…
Maurício Lara na Editora Quixote-Do: