por Isabelle Scalambrini
naquela vez fingimos que
qualquer água era mar
sentamos um ao lado do outro a
abrir um espaço no tempo e
um buraco no sol
olhamos pra dentro do início pra
tentar buscar a origem do que
chamamos de vento lavando embora a
angústia de não entender o que te leva
a buscar novas metafísicas
dali em diante comemos com garfo e faca o mistério
de colher um bolo de queijo
um beijo na testa e um até logo ao tempo
contínuo que não para quando desejamos
desejamos também abrir a nuvem e buscar
gotas de chuva a nos molhar
refrescar as ideias concluídas pela metade
admirando tua inteligência e citando anulações
uma ode ao não-silêncio
uma ode à solidão
trancafiados em casa sempre em busca do que fazer
e partimos de novo com faca afiada
o sentimento mais puro do mundo
Referência da imagem: Guy Marchant, Punishment of the envious, 1493 [Compost et calendrier des bergers, Paris Angers, Bibliothèque municipale, SA 3390, fol. 34r]