Uma literatura com um olhar coletivo e nascida na pandemia
“A vida como ela era”, conjunto de crônicas de Lino de Albergaria em lançamento pela Quixote+Do, foi produzida durante a pandemia, de uma maneira muito peculiar.
A primeira crônica, “Vasos e vinho”, foi publicada no Facebook do autor, sem a intenção de continuidade. Tratava-se apenas do registro de um fato que incomodava a muitas pessoas que se viram forçadas ao confinamento. Vizinhos abusivos, impedidos de frequentar bares, passavam a dar festas barulhentas em suas casas.
O texto suscitou muitos comentários entre outros usuários da rede social que reconheciam situações semelhantes em seu entorno. Vários pediram ao autor que continuasse abordando o tema, o que o estimulou a produzir outras crônicas. Surgiram personagens usando máscaras, descobrindo o álcool em gel, ficando doentes, convivendo com perdas, com seus medos e modos diferentes de lidar com a realidade.
As pessoas que usam o Facebook pertencem, na maioria, a uma mesma faixa etária e se reconheceram como membros do grupo de risco mais suscetível aos efeitos do vírus. Ao mesmo tempo, partilham das mesmas referências culturais. Foi assim que os primeiros leitores reconheceram certo parentesco entre os personagens de cenas atuais com aqueles que Nelson Rodrigues focalizava em seu trabalho no extinto jornal Última Hora, sob a rubrica “A vida como ela é”.
Nascia assim, de uma perspectiva coletiva, o título “A vida como ela era”. A intensa participação dos leitores na gênese da obra não se limitou ao texto. Quando a editora Quixote+Do decidiu publicar as crônicas, providenciou cinco capas possíveis. Uma delas foi escolhida em votação espontânea também realizada através do Facebook.
Agora, transformadas em livro, as histórias e personagens colhidos no recolhimento em meio a esta duradoura e imprevista crise podem ser conhecidas e lidas por outros públicos.
No site da editora ou presencialmente na Livraria Quixote, o livro já se encontra disponível, um título diferente das outras obras do autor, com uma larga produção para o público juvenil, além de alguns romances, como o mais recente “O homem delicado”, pelo mesmo selo editorial.