fbpx

Jeitinho francês: apoio da embaixada francesa vira solução para editoras viabilizarem publicações e democratizarem o acesso à leitura

Um por todos e todos por um

A frase acima soa familiar mesmo para aqueles que nunca leram os romances de Dumas e a compreensão é imediata: a afinidade entre homens e a sua luta por um objetivo em comum em um momento de crise.

A situação pode não ser mais a mesma nem passa por mosquetes e espadas, mas vem da França um jeitinho para enfrentar a crise do setor editorial brasileiro, que foi ampliada pela pandemia. O isolamento social afetou especialmente pequenas livrarias e editoras, provocou o fechamento de bibliotecas, principais equipamentos para a democratização do acesso ao livro, e acabou acelerando o processo de migração para o meio digital. Sem eventos literários e ações governamentais efetivas para combater os efeitos negativos da crise, o setor editorial brasileiro passou por 2020 acumulando dívidas, com projetos sendo adiados ou abandonados e o custo de produção de um livro aumentar.

Em 2021, a sobrevivência do setor parece passar na aceitação das mudanças para o meio digital, como aproveitar o potencial dos sites de financiamento coletivo para viabilizar obras (basta buscar por qualquer um dos mais populares para perceber o grande número de projetos de editoras e autores independentes ou de pequeno porte sendo oferecidos), mas por outro lado, a solução pode ser buscar parcerias além das fronteiras brasileiras.

Uma dessas soluções vem da França: o PAP – Programa de apoio à Publicação mantido pelo Escritório do Livro do Instituto Francês, que regulamente ajuda financeiramente a tradução e publicação de autores francófonos no Brasil. Foi esse programa que a Editora Quixote+Do buscou para viabilizar a publicação de dois novos lançamentos: O método da Cena de Jacques Rancière e Adnen Jdey e Por afinidades amizade política e coexistência de Valèrie Gérard.

“Os dois livros foram escolhidos pela atualidade das ideias que defendem e como fazem diálogo com a situação em que vivemos no Brasil, seja por causa da política ou por causa da pandemia, ou da cultura… o que vale dizer que, no fundo, é tudo parte do mesmo problema. Política, cultura e a forma como a saúde é tratada.”, afirma a coordenadora editorial da Quixote+DO, Luciana Tanure.

A verdade é os dois livros parecem se completar. Em O método da cena temos uma conversa entre Adnen Jdey e um dos mais importantes filósofos contemporâneos, Jacques Rancière, que explica alguns dos principais conceitos que desenvolveu ao longo da carreira, especialmente a questão da cena e a importância em se ocupar o espaço com o debate político. Por afinidades amizade política e coexistência foi escrito por Valèrie Gérard, doutora em filosofia, professora e diretora do Collège International de Philosophie. O fato de ser menos conhecida do público em geral não foi empecilho para que fosse traduzida, ao contrário. O diálogo que faz com os recentes embates políticos o questionamento dos motivos que levam pessoas se unem, nem sempre dentro do domínio do racional, parecem completar o pensamento de Rancière. Qual o lado que as pessoas escolhem quando estão em cena?

O método da cena ainda fez uso de uma campanha de financiamento coletivo no site Catarse e não será a última: foi apenas o começo. Assim como a parceria com a França, que começou com a publicação em 2019 de Brigitte Bardot e a síndrome de Lolita & outros escritos com ensaios de Simone de Beauvoir e que deve se estender para além da publicação de livros, no apoio à eventos como o Festival Livro na Rua. A parceria com a França, cujas práticas editorias, guiadas pela Bibliodiversidade, têm preservado a cultura literária local, protegido o mercado e permitido o acesso às obras de qualidade para a população em geral, pode servir como guia para a ações futuras de fortalecimento da cultura literária nacional.

Enfim, é hora de mencionar um poeta português: queremos para nós o espírito daquela frase tão francesa: um por todos e todos por um para que a leitura seja um hábito acessível a todos brasileiros.

Deixe um comentário

Rolar para cima